Ajudei uma amiga a pensar em casa

Uma vez comentei com uma amiga:

O quão me estava afectar a emigração em Lisboa, o bairro onde cresci está desfigurado, desapareceu quem lá vivia, e que desde que me mudei para a margem sul parece que voltei a 'estar em Portugal' e sentir bem e vontade de passear e ir a rua, conhecer locals e sentir segura num sítio onde os emigrantes são a minoria e são legais. Nasci e cresci em Lisboa e este lume brando tem aumentado muito e muito rápido nos últimos anos. Perdi muitos amigos porque não conseguem morar onde nasceram. Todos os velhotes que conhecia tiveram fins muito tristes e solitários sem conhecerem já os vizinhos novos no prédio que mudam todos os anos.

Estou realmente feliz com a minha decisão e não foi nada fácil mas consegui e ando mais feliz.

Começou a gritar-me, eu estava ao lado dela, nunca a tinha visto a gritar, ela dizia:

'Só podes estar a gozar! Isto (o desconforto que eu sentia em Lx) eram ideias de extrema direita' (sempre fui de esquerda/centro).

Chamou-me 'xenofoga' e que os emigrantes são 'necessarios' 'trabalhadores' e 'honestos', até os ilegais! E quem é que ia entregar Uber eats? (que ela adora torrar dinheiro naquilo)

E que a diversidade só faz bem a um país minúsculo como Portugal.

E que temos pouca natalidade.

Que como eu tive problemas na infância (perdi os meus pais) e estava a radicalizar para mascarar os meus problemas, segundo o diagnóstico dela.

Uns meses mais tarde estávamos eu e o meu marido, ela com o namorado. Nos estamos a comprar casa e já estava tudo encaminhado e estávamos muito felizes e não conseguiamos esconder.

Eles ficaram genuinamente surpresos e felizes por nós festejamos casualmente mas notava-se nela um discurso que 'quando fosse ela seria melhor' como se estivéssemos a festejar comprar um Fiat panda dos anos 90 ou um palheiro em Mogadouro. Quanto mais atenção eu dava mais reparava no quanto ela considerava a nossa conquista 'humilde'.

Comecei a tentar puxar algo que ela pense e se expresse sobre algo tipo 'onde gostariam de viver?' (eu nunca soube onde queria viver mas há uns 8 anos aque me apaixonei pelo sitio onde vivo agora e sei que muitas pessoas nunca se vão apaixonar por um sítio, para mim a casa é importante mas o sitio era mais do que a casa mas a casa é até boa e com espaço demais).

Nunca tinham ponderado nem falado entre eles (vivem numa renda mega acessível de um familiar em Moscavide que se pagassem o valor de uma renda naquele local seria praticamente 50% ou mais do que recebem). Começam a dizer uns sítios ali uns sítios acolá, vemos no Maps, sim senhora até têm bom gosto pensei eu, mostraram bairros em Lisboa com vivendas e sítios mais agradáveis do que o que eu esperava.

Mas eu nem conseguia imaginar o preço de uma vivenda na zona do campo pequeno. Abri o idealista para lhes mostrar (tem 30 anos e nunca abriram nada para procurar casa) depois de uns minutinhos a verem várias zonas de Lisboa começam a mostrar o que gostavam do que estavam a ver.

Estes dois mas mais ela estavam a apontar para condomínios de 1M, 750k, e eu expliquei como funcionam mais ou menos os créditos, as entradas e despesa, que quando pedes 'x' pagas muitas vezes 'x+x+y' e se 'x' é muito alto a entrada sobe, que deviam pensar já em poupanças para pelo menos 10% que Lisboa é a pior zona para comprar casa menos m²/€... Bem estava a explicar como gostava que os meus pais estivessem aqui para me explicar a mim.

No fim de os tentar consciencializar e trazer a terra ela diz: 'mas quando for comprar o meu apartamento quer ser eu a pagar e pedir o crédito só para mim sozinha' (também gostava de ser uma independentona mas a vida tinha outros planos).

Eu complementei 'mas de um apartamento modesto e mesmo assim é muito risco um crédito desses sozinha' e ela responde 'nao! De um condomínio com ginásio!!'

Para concluir acho que ela só não queria o que eu consegui. Porque era 'humilde' e fora de Lisboa. Fiquei com pena do namorado que mal se expressou (disse só algo sobre não querer juntar dinheiro para poder pedir uma bolsa para um doutoramento tipo humanidades sobre agricultura) mas já estamos habituados a cabeça de vento dela. Gostava que alguém tivesse tido sequer esta conversa comigo mas pelos vistos Deus da mesmo as nozes a quem não tem dentes. 🤣🤣